Nome do projeto: “CABEÇA FEITA” |
Temática (X) Afro ou ( ) Indígena ( ) Rede Municipal de Curitiba ou (X) Rede Estadual de Educação
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Região (X) Curitiba ( ) Área Norte ( ) Área Sul ( ) Litoral |
Categoria ( ) Projeto Individual ou (X) Projeto de Equipe Multidisciplinar ou Comissão Étnico-Racial
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Número de turmas e alunos beneficiados pela ação: |
( )Educ. Infantil ( )Ens. Fundamental I - 1º ao 5º ano (X)Ens. Fundamental II - 6º ao 9º ano (X) Ens. Médio
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Área(s) do conhecimento abrangidas: Todas, interdisciplinarmente. |
a) Apresentação da proposta
Considerando que o corpo evidencia diferentes padrões estéticos, um olhar mais apurado sobre o corpo negro na escola permite-nos verificar como professores e alunos lidam com a cor da pele e o cabelo, elementos definidores não só do pertencimento étnico-racial, mas, desde a escravidão, do lugar dos sujeitos dentro do sistema econômico, social e cultural brasileiro. A escola, por sua vez, pode atuar na reprodução de estereótipos sobre o negro, o corpo e o cabelo, ou na superação dos mesmos; tomando a beleza negra como referencial indentitário, com o objetivo de demonstrar como o corpo e cabelo negros são vistos e referenciados na sociedade contemporânea e como também, a conjunção, corpo/cabelo pode servir de afirmação étnico-social e de resistência de uma população constantemente violentada pelo sistema dominado pela ética/estética do capital.
b) Diagnóstico da escola:
O CEAD Potty Lazzarotto, um centro estadual de educação básica de jovens e adultos, localizado no setor histórico da região central de Curitiba - Paraná, vem, desde 2006, desenvolvendo um trabalho de sistematização dos conteúdos referentes à história e cultura africana e afro-brasileira, mais especificamente nas disciplinas de Arte, Língua Portuguesa e História. A partir de 2009, os professores das demais disciplinas, reconhecendo a importância da aplicação das leis 10639/03 e 11645/08 (que torna obrigatório o ensino da história e cultura indígena) também passam a inserir, gradativamente, em suas propostas pedagógica e curricular aulas expositivas, discussões, seminários, apreciação estética e crítica de filmes, leitura de textos e imagens, sempre que possível, numa perspectiva interdisciplinar, ampliando, com isso, os conhecimentos e reflexões acerca do tema. É, no entanto, com a constituição da Equipe Multidisciplinar, em fins de 2010, que se dá a intensificação de um trabalho voltado à Educação das Relações Étnico-raciais, com ênfase no papel da escola no processo de implantação de uma lógica mais inclusiva e de construção de identidades.
c) Objetivos da ação:
- ampliar e aprofundar o estudo da questão étnico-racial (autorreconhecimento, discriminação, preconceito) na escola; - promover a ressignificação cultural e desconstrução de estereótipos (autoidentificação do próprio pertencimento racial, tomada de consciência de que branquitude não é sinônimo de superioridade, nem negritude de inferioridade, mas sim representação de identidades); - contribuir para a construção de um novo paradigma educacional que, em vez do modelo eurocêntrico, ratifique o modelo ecológico profundo, em todos os seus níveis e dimensões. |
d) Justificativa:
Dado que uma das primeiras ações diagnósticas da Equipe Multidisciplinar de nossa escola consistiu na análise dos formulários de requerimento de matrícula, constatando-se, na oportunidade, que pouquíssimos apresentavam o campo “cor/raça” preenchido e quando o faziam, a palavra mais frequente era “branca”, o que na realidade não condiz com as características fenotípicas (tez, cabelos, traços faciais) de grande parte do alunado, verificou-se a premente necessidade de realização de um amplo e efetivo trabalho, com a participação de toda comunidade escolar, voltado à desconstrução de estereótipos e à construção de referenciais positivos de identidade racial e sociocultural. Nesse contexto, o projeto CABEÇA FEITA se justifica enquanto uma proposta de trabalho interdisciplinar que visa conscientizar a comunidade escolar sobre a escravização a que até hoje estamos submetidos devido a padrões euro-etnocêntricos de beleza, amplamente propalados pela mídia, e suas consequências sobre as pessoas que, numa nação miscigenada como a brasileira, não se reconhecem dentro desse estereótipo de beleza, sentindo-se, consequentemente, muitas vezes invisibilizadas ou até mesmo inferiorizadas por essa cruel exclusão midiático-capitalista. |
e) Detalhamento das estratégias de ação:
1 - realização de uma enquete, junto a alunos, professores e funcionários, sobre a autoidentificação quanto ao pertencimento étnico-racial de cada um (segundo pesquisa MEC/INEP/FIPE, 2009);
2 - inserção, no Projeto Político-Pedagógico do CEAD Potty Lazzarotto, de capítulo referente ao Ensino da História e Cultura Africana, Afro-brasileira e Indígena e da Educação das Relações Étnico-raciais;
3 - realização, ao longo do ano letivo, de palestras e entrevistas, voltadas à educação das relações étnico-raciais e desconstrução de preconceitos relacionados às religiões de matriz africana;
4 - Exibição semanal de filmes (curtas e longas metragens, como: “Abolição”, “O Xadrez das Cores”, “Besouro”, “Quilombo”, ”Rota dos Orixás” etc) seguida de análise estética e crítica, sempre mediada por um/a professor/a;
5 - realização de Rodas de Leitura semanais de contos de autores africanos (de países de língua portuguesa) e afro-brasileiros, seguidas de debates (alguns autores: Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo, Isabel Ferreira, Sônia Gomes, Lima Barreto, Machado de Assis, Ondjiaki, Honwana);
6 - visitação a museus etnográficos, exposições de artes visuais de autores africanos, shows musicais, peças teatrais e apresentações de dança com temas focados na História e Cultura Africana e Afro-brasileira (exposições: Africanidades (UFPR), O NEGRO NO PARANÁ, da invisibilidade ao reconhecimento (Museu Paranaense); musical: O Negro, a Flor e O Rosário (Teatro Guaíra));
7 - promoção de oficinas com profissionais que atuam na divulgação e disseminação das tradições e cultura africana e afro-brasileira (oficina de capoeira e dança afro);
8 - realização de trabalho interdisciplinar sobre a Cultura da BELEZA, envolvendo professores das disciplinas de Biologia, Arte, Sociologia, Filosofia, Matemática e Português;
9 - realização de oficina sobre cuidados e tratamentos específicos com o cabelo afro (corte, lavagem, secagem, hidratação) e orientação sobre formas de valorizar as características do cabelo negro por meio de penteados, tranças, dreads, rastas (ou dreadlocks) etc a fim de evidenciar a beleza e resgatar a autoestima e identidade afrodescendente;
10 - solicitação de fotos dos alunos matriculados, que se autorreconhecem afrodescendentes (com a devida autorização de utilização de imagem) e elaboração do “Painel da Visibilidade”, onde as fotos deles compartilham espaço com recortes de fotos de personalidades negras famosas veiculadas na mídia impressa (jornais, revistas...);
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f) Detalhamento da metodologia empregada:
Disseminação de informação, por meio de abordagem histórico-crítica, através de aulas expositivas, murais, painéis, atividades de sensibilização e conscientização, sobre a importância do corpo e do cabelo como ícones na construção da identidade negra brasileira e sobre a pertinência da manipulação do cabelo do negro e da negra como elementos de força histórica e cultural dos afrodescendentes.
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g) Detalhamento dos critérios de avaliação:
- interesse dos professores em conhecer, de fato, a comunidade em que atuam, sem estigmatizações ou estereotipias;
- desenvolvimento de valores essenciais para convivência entre as diferenças;
- envolvimento da comunidade escolar (professores, funcionários e estudantes) em prol da otimização das relações raciais no ambiente escolar; - atitudes positivas de alunos, professores e funcionários, quanto ao seu pertencimento racial, diante de fatos de sua realidade, buscando atuar como agentes de transformação;
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h) Dificuldades e soluções encontradas:
- A principal DIFICULDADE encontrada, inicialmente, foi a resistência por parte de alguns professores e funcionários em se inteirarem das leis 10.639/03 e 11.645/08 e em participar das discussões e atividades propostas;
- Uma das SOLUÇÕES encontradas pela Equipe foi a realização sistemática de reuniões, palestras e oficinas com o corpo docente voltadas à socialização de conhecimentos e experiências por parte de todos e tendo como principal foco a construção de valores essenciais para convivência entre as diferenças; |
i) Outras informações...
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Ressalta-se, aqui, a importância desse processo se dar de forma coletiva, com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar. |
j) Anexo que melhor possa ilustrar as atividades realizadas:
- fotos da “Oficina de Tranças Afro”, com Debora Caroline Pereira
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k) Referências bibliográficas:
BELEM, Valéria, (2007). O cabelo de Lelê, rio de janeiro: Companhia Editora Nacional.
BRUNER, Jerome, (2001). A cultura da educação. Porto Alegre: Artmed.
GOMES, Nilma Lino, (2002). Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP.
MUNANGA, Kabengele, (2000). Arte afro-brasileira: o que é, afinal? In: Associação 500 anos Brasil artes visuais. Mostra do redescobrimento. Arte afro-brasileira. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo.
QUEIROZ, Renato da Silva, OTTA, Emma, (2000). A beleza em foco: condicionantes culturais e psicológicos na definição da estética corporal. In: QUEIROZ, Renato da Silva, (org.). O corpo do brasileiro: estudos de estética e beleza. São Paulo: SENAC. p. 13-66.
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l) Nome de todos os componentes da equipe envolvida:
Ana Batista Lopes Machado (Biologia); Beatriz de Cassia Proença Bittencourt (Biologia); Denilto Laurindo (Filosofia); Elair de Macedo e Silva Grassani (Português); Fábio Henrique Amaral (História); Gesse Santiago (Arte); Jamaica Camargo Paroli (Educação Especial); Joelson Sales da Silva (Agente Educacional II/Secretaria); Kaumer Ney dos Santos Oliveira (Física); Leandro Renato Santos (Agente Educacional II/ Secretaria); Lunamar Rodriguez (Arte); Neide Aparecida da Silva (Matemática); Silvana Aparecida Andreuzo (Pedagoga); Viviane das Graças Mocelin (Arte).
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m) Nome, telefone e endereço da escola:
CEAD POTTY LAZZAROTTO (041)3233-1990 - Rua São Francisco, nº 50 - CEP 80.020-190
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